Artigos de opinião
CAR - CENTRO DE ALTO RENDIMENTO: VERSÃO Nº III
E pronto, não há 2 sem 3!
Depois de duas tentativas falhadas de CAR eis que surge pela mão da FPT a versão III do CAR. Desta vez a FPT teve a originalidade de “convidar” todas as “Associações, Clubes, treinadores e demais agentes ligados à modalidade, a contribuir com as suas importantes opiniões e sugestões para que sejam analisadas com toda a atenção”.
O convite foi endereçado a 6 de Setembro para ser respondido até ao passado dia 18 Setembro.
Num tema desta relevância e com o país tenístico meio paralisado pelas férias de verão, pretende-se que em 12 dias todas aquelas entidades contribuam com as “suas importantes opiniões e sugestões”.
Se fossemos cépticos e cínicos diríamos que tal proposta ou é uma brincadeira, ou o que a FPT pretende com isto é que não se discuta nada (porque materialmente não existe tempo nem possibilidade para se discutir nada em profundidade, mas apenas para que uns poucos, os do costume, mandem uns “palpites para o ar” sobre o tema) e que fique sobretudo registado, que cumpriu democraticamente a sua função ao pôr à consideração do País um tema de tal relevância.
Se fossemos cépticos e cínicos diríamos que isto é apenas “para inglês ver” e que a FPT quer avançar, tal como no defunto CAR II, rapidamente e em força, no maior dos obscurantismos, sem dar nem tempo nem reais possibilidades para que haja um amplo debate sobre o assunto.
Mas não é uma brincadeira. É mesmo verdade e é muito, muito pouco sério. É mesmo uma vergonha e vai prejudicar os do costume, ou seja: atletas, clubes formadores desses atletas e seus treinadores. Deste negócio, mais uma vez, só vai beneficiar a FPT, já que vai meter ao bolso o chorudo cheque que o IPDJ atribui às Federações que põem de pé um Centro de Alto Rendimento. Não interessa como, nem com quem, nem porquê, o que interessa é pô-lo rapidamente a funcionar, não vá aquele organismo do Estado fechar a torneira e enviar o cheque a outra Federação mais expedita.
E contudo, o tema é demasiado importante e fundamental para o futuro do Ténis de Alta Competição em Portugal para que seja discutido e analisado desta forma, sem que a FPT tenha enviado previamente às entidades a quem está a pedir opinião, uma linha sequer sobre as suas intenções, sobre o modo como tal estrutura vai funcionar, com que corpo técnico, dirigida a que faixa etária, como vai resolver a questão dos estudos e a questão da estadia dos atletas fora de Lisboa (se é para os atletas ficarem abandonados após os treinos no Centro de Estágio da Cruz Quebrada, entregues à sua sorte sem o mínimo enquadramento ou ambiente familiar, tal como nas 2 experiências anteriores, mais vale nem começarem o projecto), como vai ser o relacionamento com os Clubes/Treinadores fornecedores de atletas, etc, etc….
Exigia-se uma reflexão e discussão aprofundada e o mais alargada possível sobre o tema. E desta forma é impossível. É quase desrespeitoso para com os futuros atletas e respectivas famílias, que podem embarcar em mais uma aventura irresponsável e às cegas, responder desta forma à FPT.
Acresce que, decorridos 8 meses da última experiência falhada de CAR II, não veio ninguém da FPT ou daquela estrutura, fazer um balanço, uma reflexão, do que correu bem ou mal, ou seja, a razão pela qual encerrou uma estrutura aparentemente bem dirigida tecnicamente, com infra-estruturas ímpares no país e com fundos generosos do IDPJ para o seu funcionamento logístico e deslocações a torneios internacionais. E faliu, não financeiramente (pelos vistos há dinheiro para muito mais. Crise, qual crise?), mas tecnicamente. Ninguém veio a terreiro explicar porque é que a esmagadora maioria dos atletas integrantes do CAR II o abandonaram, alguns desistiram mesmo de jogar ténis e outros preferiram regressar aos seus clubes de origem (muitos completamente desmotivados). Porque é que com uma estrutura de excelência com estas características e ainda para mais grátis, os atletas a abandonaram regressando aos seus clubes, mesmo pagando? É que ninguém ponderar nestas questões é quase uma garantia de que se vão cometer os mesmos erros.
Algo de errado se passou e ninguém veio a público dizer o que foi ou mesmo reflectir sobre o que se passou.
Acresce ainda que se sabe nos bastidores e nos “mentideros” da modalidade que o modelo a implementar do novo CAR está definido, que já se conhece praticamente o seu corpo técnico, e que inclusivamente alguns dos seus elementos, nos recentes Campeonatos Nacionais de Sub 16 e Sub 18, andaram a sondar atletas da possibilidade de integrarem a nova estrutura federativa.
E isto é dupla ou triplamente grave, já que a FPT pede opinião a um conjunto de entidades sem lhes fornecer quaisquer dados, como seria expectável e exigível, sem lhes dar tempo para o fazer adequadamente, com praticamente tudo decidido nos bastidores e ainda para mais contactando directamente atletas, passando por cima de Clubes, treinadores e pais dos mesmos. É grave, deontologicamente errado e uma vergonha.
Vindo de uma Federação que diz privilegiar o relacionamento com as Associações, os clubes e treinadores, não está mal!!
Venho pois sugerir que se conceda uma moratória sobre a implementação desta 3ª tentativa de CAR, de pelo menos alguns meses, por forma a permitir uma ampla reflexão e participação de todos os interessados – AR’s, Associações profissionais, Clubes, treinadores, etc… Só assim poderemos construir um CAR interessante e desejado por todos, que responda às necessidades do país e à produção de jogadores profissionais de alto nível.
Sem isto, estaremos apenas a participar num jogo “do faz de conta”, irresponsável e potencialmente prejudicial para as espectativas dos futuros envolvidos – jogadores e respectivas famílias, clubes e treinadores – e a iludir as nossas próprias responsabilidades.
Com os melhores cumprimentos
Pedro Bivar
(Treinador Nível III da FPT/Presidente do Conselho Técnico da ATL/Director Técnico do Ace Team)